24 de fevereiro de 2010

Histórias sem Fim ou É Segredo

Recentemente fui jogado para recordações de acontecimentos do ano passado e na hora nem pude evitar pensar no enredo do Salgueiro deste ano, “Histórias sem Fim”...
Mas nada de livros ou repetição de histórias contadas ou recontadas. Apenas se fez presente um conflito para o qual eu havia chamado a responsabilidade e jurava ter colocado um ponto final. Mas o samba do Salgueiro trazia em sua (fraca) letra a seguinte frase: “uma história de amor, sem ponto final...” Não, não é nenhuma relação amorosa que volta à tona, apenas um conflito relativamente sério para o qual aparentemente não apareceu ainda o ponto final.
Acho bem estranho como as pessoas mudam de acordo com o que ouvem ou com o que querem. Mais estranho ainda é como as pessoas recuam justamente quando percebem que ganham nossa confiança. Aliás, esse me parece o ponto chave de todo conflito. Ao sentirem-se seguras na confiança que recebem, algumas pessoas tendem a dar passos muito largos, talvez como forma de confirmar até onde essa confiança vai. Porém a covardia em relação aos fatos, ou em assumir coisas que muitas vezes são perceptíveis, acaba fazendo com que as histórias corram ao encontro de outro enredo...
“É Segredo” foi um tsunami no carnaval. Sucesso de público, crítica e jurados! A letra trazia uma frase bem interessante: “pare pra pensar, vai se transformar ou esconder até o final?” E enfim retomo a história que havia acabado e não acabou. Para que algo seja escondido até o final é preciso que seja segredo, do contrário perde este status e passa a ser apenas um fato.
E como reagem as pessoas que vêem seus segredos arrancados do ar de mistério e transformados em fatos? A experiência mostrou um mecanismo simples de defesa, o confronto. Afinal, e isto vale para mim inclusive, é muito mais fácil confrontar aquele que conhece seus erros do que olhar para dentro de si e reconhecer-se fraco em algum aspecto. Com a criação do confronto, os fatos que antes eram segredos são reduzidos à categoria de implicâncias ou picuinhas.
As simplificações me dão preguiça e preferia mesmo ter nascido em épocas que conheço apenas pelos livros da Jane Austin. Garanto que esta história com ex-segredos fortes no quesito alcova ganharia contornos saborosos, ao ser lembrada em jantares ou passeios pelos bosques, na boca de senhoras e moçoilas bem vestidas e de educação impecável.
Este é o grande mal da modernidade: simplificam-se as pessoas, simplificam-se as relações e qualquer tentativa de reflexão sobre o todo se transforma numa lengalenga geralmente taxada de filosofia de botequim.

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