25 de fevereiro de 2010

A Mecânica do Surgimento da Vida

Um ano depois vi que o Festival do Minuto disponibilizou os comentários dos curadores sobre meu filme. É muito legal quando você faz uma coisa levemente hermética e alguém alcança sua idéia! E mantendo a linha dos meus outros trabalhos, tem gente que não gosta mesmo, e isso é o mais legal, você conseguir fazer algo que desperte as pessoas, por gostarem ou não do que foi feito. Reproduzo abaixo todos os comentários (bons e ruins):

Curador 1 (23/06/2009)Até é interessante a analogia entre a catraca e a gravidez, mas achei o vídeo tão mal realizado, as atuações tão ruins, os planos da cena de sexo tão xulos, que não dá.

Curador 2 (23/06/2009)Mistura inocência com um forte teor de realidade na cena de sexo, idéia original.

Curador 3 (23/06/2009)não vi a relação entre catraca e sexo.

Curador 4 (23/06/2009)muuito estranho, muito interessante. só peca ao cair no "Bonitinho" do plano final...

Curador 5 (23/06/2009)Explícito e criativo. Permite criar um efeito entre os dois videos, que possuem níveis praticamente destintos, referente a rotatividade da vida.

Curador 7 (23/06/2009)Sexo intercalado com uma catraca para sugerir mecanicissidada na sociedade. Não objeve exito ao compor o vídeo.


Curador 8 (23/06/2009)Para o tema ele foi algo bem diferente, acredito que o surgimento da vida não tem muito a ver porem a garotinha passando por baixo da catraca fez com que o casal também pareça fazer algo que não é permitido (traição).

Curador 9 (24/06/2009)Boa linkagem de idéias. Quando começõu achei que era pornotube, mas foi ficando bem legal.

Curador 10 (24/06/2009)Decupagem e enquadramentos inteligentes. Edição muito bem trabalhada desenvolvendo a proposta do autor que consegue tratar o tema com humor sem diminuí-lo, excelentes as metáforas e os "metadentros" - não resisti à piada - hehehe. Adorei o roteiro e suas sacadas, e a expressão no rosto da moça é impagável, kkk. Parabéns.

Curador 11 (24/06/2009)Muito bom! Conseguiu usar a metáfora da catraca de forma clara, mas sutil, sem descambar para o apelativo. Excelente edição, decupagem bem pensada, trilha muito bem aplicada. E é engraçado.


Curador 12 (24/06/2009)a metáfora ficou um pouco bizarra e forçada, ao meu ver. o vídeo coteja o mau gosto.


Curador 13 (24/06/2009)Criativa a relação feita no vídeo, ficaria melhor em um nano, ficou repetitivo.


Curador 14 (24/06/2009)Eu confesso que não consegui entender a linha de pensamento que o diretor traçou relacionando a catraca com sexo, pessoas passando pela catraca e depois uma criança passa por baixo. Não compreendi. Mas trata-se de um vídeo com um bom roteiro, com uma sonoridade que corresponde ao jogo de cenas, que se preocupou com todos os detalhes (bem se vê pelo tamanho da equipe) e que passa uma idéia, ou seja passa uma mensagem. Apenas não compreendi, mesmo lendo a descrição do vídeo.

Curador 15 (24/06/2009)boa ideia, final bem interessante.




24 de fevereiro de 2010

Histórias sem Fim ou É Segredo

Recentemente fui jogado para recordações de acontecimentos do ano passado e na hora nem pude evitar pensar no enredo do Salgueiro deste ano, “Histórias sem Fim”...
Mas nada de livros ou repetição de histórias contadas ou recontadas. Apenas se fez presente um conflito para o qual eu havia chamado a responsabilidade e jurava ter colocado um ponto final. Mas o samba do Salgueiro trazia em sua (fraca) letra a seguinte frase: “uma história de amor, sem ponto final...” Não, não é nenhuma relação amorosa que volta à tona, apenas um conflito relativamente sério para o qual aparentemente não apareceu ainda o ponto final.
Acho bem estranho como as pessoas mudam de acordo com o que ouvem ou com o que querem. Mais estranho ainda é como as pessoas recuam justamente quando percebem que ganham nossa confiança. Aliás, esse me parece o ponto chave de todo conflito. Ao sentirem-se seguras na confiança que recebem, algumas pessoas tendem a dar passos muito largos, talvez como forma de confirmar até onde essa confiança vai. Porém a covardia em relação aos fatos, ou em assumir coisas que muitas vezes são perceptíveis, acaba fazendo com que as histórias corram ao encontro de outro enredo...
“É Segredo” foi um tsunami no carnaval. Sucesso de público, crítica e jurados! A letra trazia uma frase bem interessante: “pare pra pensar, vai se transformar ou esconder até o final?” E enfim retomo a história que havia acabado e não acabou. Para que algo seja escondido até o final é preciso que seja segredo, do contrário perde este status e passa a ser apenas um fato.
E como reagem as pessoas que vêem seus segredos arrancados do ar de mistério e transformados em fatos? A experiência mostrou um mecanismo simples de defesa, o confronto. Afinal, e isto vale para mim inclusive, é muito mais fácil confrontar aquele que conhece seus erros do que olhar para dentro de si e reconhecer-se fraco em algum aspecto. Com a criação do confronto, os fatos que antes eram segredos são reduzidos à categoria de implicâncias ou picuinhas.
As simplificações me dão preguiça e preferia mesmo ter nascido em épocas que conheço apenas pelos livros da Jane Austin. Garanto que esta história com ex-segredos fortes no quesito alcova ganharia contornos saborosos, ao ser lembrada em jantares ou passeios pelos bosques, na boca de senhoras e moçoilas bem vestidas e de educação impecável.
Este é o grande mal da modernidade: simplificam-se as pessoas, simplificam-se as relações e qualquer tentativa de reflexão sobre o todo se transforma numa lengalenga geralmente taxada de filosofia de botequim.

20 de fevereiro de 2010

Paulo Barros X Marcelo Dourado


Participo de várias listas de discussão na internet sobre o carnaval, mais especificamente sobre os desfiles das escolas de samba. Outro dia, em um destes fóruns, havia um tópico que me chamou bastante atenção: debatia a homofobia presente nas atitudes de Marcelo Dourado. Como em todas as discussões deste tipo, haviam muitos ataques ao comportamento do lutador dentro da casa do BBB.

Havia um menino, o mais fervoroso na condenação de Dourado, que afirmava que o fato dele bem conviver com os outros não era suficiente pra mostrar que ele não tinha preconceito. Até lancei sutilmente uma questão, digo sutilmente porque não é do meu feitio me envolver em calorosas discussões, o que espera-se do Marcelo? Ele, apesar das merdas que fala, conversa com respeito mesmo com pessoas que forçam a barra para mostrar mais do que são. O que ficou claro para mim na discussão que acompanhava, é que a única chance do Dourado não ser considerado homofóbico era declarar-se gay, ou bi, ou entrar em algum joguinho homoerótico com as bibas da casa. Estranho que Eliéser, sempre envolvido nestes joguinhos, deu outro dia a seguinte declaração sobre homossexualismo: Não é normal! Fico imaginando se essa frase saísse da boca de Dourado, o alarde que não seria feito.

Voltanto ao meu colega do tópico, que condenava Dourado por ser um ogro, de idéias fechadas, ultra conservador... Após a apuração, debates e mais debates sobre a campeã (de público, crítica e jurados) Unidos da Tijuca, e lá estava o menino afirmando categoricamente: "a vitória da Tijuca enterrava de vez o desfile das escolas de samba". Para ele, ao conquistar um título que há muito perseguia, Paulo Barros teria agora seu estilo referendado como a única forma de se fazer um desfile de escola de samba. E que outras escolas seguiriam este exemplo, transformando o desfile em um espetáculo da Disney.

Confesso que fiquei intrigado ao ler isso, a rejeição a Dourado neste momento me pareceu um confrontamento com o espelho. Neste grande show do senso comum que se faz em nossa sociedade, por vezes sinto que falta um pouco mais de reflexão sobre nossas opiniões.

A propósito: não sou defensor ferrenho do Dourado, nem do Paulo Barros! Reconheço neles qualidades e defeitos, que não são o foco desta reflexão.

4 de fevereiro de 2010

Tipos



Em épocas de grande irmão viramos todos um tipo de psicólogo, psiquiatra e mesmo sociólogo. Pelos diversos modelos humanos que nos são apresentados ao alcance do controle remoto lançamos nossos olhares e nossas interpretações. Não é segredo que sou atraído por algumas coisas bastante popularescas, estão aí os desfiles das escolas de samba e o próprio BBB pra confirmar isso.
Gosto e muito de ver o programa, mas mais divertido que o programa em si é o que vem depois, seja na leitura de especialistas no assunto (adoraria ter essa profissão: especialista em BBB) ou nas conversas informais com amigos e colegas. Foi justamente nestas conversas que fui lançado a enxergar uma série de pessoas que estão ou estiveram ao meu redor e que de certa forma são representadas pelos tipos do programa.
A alma intelectual que cultivei durante alguns anos de minha juventude rejeita fortemente a doutora Elenita. Saber o que fui e principalmente aquilo que alguns que por mim passaram ainda são me mostra que o caminho escolhido por mim não foi tão equivocado assim. Contatos recentes também mostram que quando mergulhamos no profundo conhecimento, perdemos a força para a ação sobre o assunto.
Formando um contraponto que beira fofoca, também é possível reconhecer no casal do trintão submisso apaixonado pela menininha nova e aparentemente inofensiva várias situações que presenciei ao longo dos anos. Muito desse conhecimento é pelo fato de ser professor e ver por diversas vezes marmanjos perdendo a cabeça por, como se diz na suburbana e rica linguagem do funk: uma novinha. As lógicas destas relações eu até compreendo, mas não de uma maneira que possa ser pronunciada impunemente.
Consequência também da profissão é reconhecer no comportamento da dançarina (Lia) vários traços bem típicos da personalidade feminina. Uma mulher extremamente sensual, que provoca, mas se sente ofendida ao ser abordada de forma mais contundente. É como uma história que ouvi essa semana: de uma menina que conversa com um menino, trocam carinhos, ele a beija, mas ela rejeita por respeitar o namorado.
Os outros tipos aparecem aos montes pela rua: o fortão burro, a barraqueira, a bonitinha quase santa, a bunduda tarada, o brutamontes com coração, a bichinha saltitante (nova ou velha), a sapata feminina e séria (mas nem tanto) e o bronco em tentativa de regeneração. Lamento muito que em todas estas edições a globo não tenha conseguido acertar na escolha de negros que fizessem algum tipo de diferença no programa, situação muito diferente da que presenciamos em nossas vidas quase que diariamente.
Pra finalizar, se for seguida a linha dos últimos anos, nos quais sempre ganha a figura que eu mais detesto dentro do programa, devem disputar o título (na ordem da minha aversão): Eliéser, Serginho ou Alex.